sábado, 15 de janeiro de 2022

CARTA PARA MINHA AMADA MÃE...

Quantas vezes me pergunto se tudo isso não passa de um sonho, ou melhor, de um pesadelo? Hoje faz um mês que você partiu, minha amada! Olho para o universo, e meu grito calado exige uma resposta imediata: Como é que se aprende a lidar com uma perda dessa grandeza? Como compreender a finitude devastadora da perda de uma mãe? Como compreender que a pessoa que mais amamos e mais nos amou nessa maluca experiência, se vai! Assim, num estalar de dedos, sem notícias, abraços e qualquer possibilidade de contato? Ainda que a doença a tenha tirado de nosso convívio e a tornado um ser inanimado, a sua completa ausência nos trás a sensação de completo desamparo... Como se na verdade esses anos todos de amor, convívio e paz, fizessem parte de uma ilusão passageira... Não basta estarmos imersos nesse planeta suspenso no universo, do qual temos muitas poucas respostas, ainda temos que compreender a ida devastadora de seres que passamos a vida amando... Meu deus! A morte é muito cruel. Tão cruel que nos impele de forma drástica a aceitá-la, para que não nos deixemos morrer junto a ela... Morrer antes do tempo de morrer... porque morrer, todos nós iremos! O pouco que sobrou de mim nesse momento, agradece... Sim, eu consigo agradecer você ter partido, quando meus 46 anos de vida puderam me fazer ver a vida de outra maneira... quando sua presença deixou de ser a estrutura da minha e eu consegui me desmembrar de você... sim, porque por muitos anos eu e você nos mantivemos coligadas, como se de alguma forma eu nunca tivesse saído de dentro de seu útero... Mas então um dia, lá pelos meus 20 poucos anos, a vida exigiu que eu nascesse... que eu fosse parida meio que a força da conexão do seu útero. E então, pouco a pouco, fomos perdendo essa conexão visceral e aprendendo a nos tornar mãe e filha de outra forma... Meu deus, como agradeço que isso aconteceu antes!!! Que você não partiu naquele momento, porque eu sei, seria muito mais duro do que já está sendo... Minha amada mãe... quantas coisas eu queria te dizer! Primeiro de tudo: Obrigada! Pelo amor, carinho, cuidados que você teve comigo desde minha tenra infância... crises de bronquite, criança serelepe, adolescente difícil e desafiadora, adulta envolvida com drogas e festas e curtindo a vida adoidado! Obrigada por ter me aceitado como bissexual, aberto sua casa para meus amigos e tantas namoradas...por ter sido tão gentil com cada uma delas... Obrigada por ter me ensinado a tratar bem todas as pessoas, a fazê-las se sentir queridas, unidas e amadas... Obrigada por ter sido essa mulher linda por dentro e por fora... vaidosa e prestativa, amorosa e querida... Você brilhou, mãe! Você passou por muitas dificuldades financeiras, com a depressão do papai, a ausência da Kitty, a partida da Fe para a Bahia, as minhas rebeldias cheias de riscos e perigos, as viagens de trabalho da Gra... Mas olhando para trás, sinto que você foi feliz... Porque você sempre foi AMOR, e isso mãe, você teve! Sinto muito por você ter adoecido, justamente quando poderia curtir sua aposentadoria ao lado do papi... Não consigo compreender como pessoas tão merecedoras como você, tem que passar por essas coisas... Mas o que de fato sabemos? Essas e outras perguntas vêm sendo feitas desde que o homem pisou pela primeira vez na terra... e talvez jamais saibamos. Mas o que eu sei, é que sua vida é digna de APLAUSOS. Daqueles que fazem um salão inteiro se levantar, para reverenciar uma pessoa que por onde passou, deixou tanto amor... é isso que você é, Mãe... AMOR! Te amo ontem, hoje e sempre! Sua filha Re!

terça-feira, 23 de abril de 2019

XX para XY



Caros cromossomos XY,
Essa carta, é na verdade, um desabafo mental. Uma forma de colocar através de palavras, um sentimento que me abateu desde minha tenra infância. No dia em que descobri que ser mulher era foda! No dia em que saquei que crescer peitos e curvas me separava, de uma vez por todas, da ingênua percepção de liberdade que meus 10 anos ainda me traziam, e que me foram tirados, assim, num estalar de dedos.
Queria muito que vocês pudessem enxergar através de meus olhos, e compreender o que tenho a lhes dizer. Mas peço que vocês façam uma coisa, se possível... Pelo menos por alguns instantes, esqueçam de que são cromossomos XY e caminhem comigo através da minha visão de mundo, que talvez, muitos de vocês verão não ser assim tão diferentes das suas.
Entendo esse desabafo como uma parte humana que me une a vocês, antes mesmo de nossos cromossomos tornarem -se partes distintas entre X e Y.
Como se fosse possível homens e mulheres se amarem e se respeitarem com nossa verdadeira humanidade, que transcende cores, credos, gêneros, e que nos permite deixar nossos ”achismos” de lado, para o simples fato de que existir, ultrapassa isso tudo. Somos antes de tudo, seres humanos!
Não sabemos exatamente o porque fomos criados e desenvolvidos com tais particularidades e anatomias, mas o fato, é que nossa natureza criou um meio de nos unir através de hormônios, cheiros, sentidos, gostos para que machos e fêmeas copulem e tornem possível a continuidade da nossa espécie, e nos afastar através de hormônios, cheiros, sentidos, gostos, oriundos de mundos particulares e muitas vezes antagônicos, que de uma certa forma, nos separa, desagrega e gera conflitos.
Desde que temos consciência de nossa história pela terra, sabemos que nossos papeis foram bem divididos, uma vez que os homens usavam sua habilidade física para caçar, e as mulheres sua habilidade para cuidar da prole. Essa diferenciação da força e da natureza entre os sexos, também criou um oceano entre eles.

Mas ainda que os homens e as mulheres tenham todas essas diferenças, as mulheres jamais subjugaram, menosprezaram ou depreciaram as diferenças masculinas da mesma forma que os homens fazem com as mulheres. E tudo isso me trás para uma reflexão mais profunda e sem respostas... Por quê?
Por que o homem precisa depreciar as mulheres? Enxergá-las como meros objetos sexuais ou até mesmo, como inferiores?
Não são justamente as mulheres que dão a vida, nutrem, cuidam e preparam os homens para o mundo? Não são as mulheres, que lhes dão suporte, lar, lealdade?
O que há de tão distinto entre nossos mundos que permite que os homens nos subestimem dessa forma? Onde existe a ideia de superioridade?
Parte de minha busca por respostas me trás a máxima de que desprezamos o que queremos comprar. De que há algo na força intuitiva da mulher que amedronta os homens de tal forma, que eles carecem, urgentemente, menosprezá-las.
Mas que merda, hein, cromossomos XY?
Não basta estarmos inseridos no meio de um sistema completamente desconhecido, que nos obriga a sobreviver a qualquer custo, sem saber exatamente porque e para onde? Não basta sabermos que nossas limitadas experiências rumam a um destino comum e óbvio, do qual homem nenhum jamais conseguiu escapar? Por que tornar ainda mais difícil esse caminhar?
No fundo somos todos irmãos. Passageiros temporários por essa terra bravia, e maravilhosa, por essa experiência cruel e deliciosa, que nos trás tantas alegrias e dores...No fundo, o que nos separa é ínfimo em relação ao que nos une. Basta observar que os únicos órgãos que nos distinguem estão relacionados com nossos aparelhos reprodutores, de resto, somos exatamente iguais.
Então Cromossomos XY, queria mesmo lhes convidar a enxergar as mulheres como suas verdadeiras companheiras de estrada, como suas mães, amantes, amigas e mais do que isso, aliadas. Vamos nos amar mais, e nos julgar menos... Vamos olhar mais para nossas semelhanças e valorizar nossas diferenças.
Somente dois gêneros no meio de tantos bilhões de seres...Somente Homens e Mulheres, vagando por esse planeta em busca de um propósito maior...
Vamos começar a plantar uma nova semente, para que, talvez, daqui a milhões de anos, Homens e Mulheres possam verdadeiramente caminhar de mãos dadas, justificando a verdadeira razão de serem somente cromossomos XX e XY.

Um dia, no meio da existência...
Renata Cajado
23/03/2019.







quinta-feira, 19 de maio de 2016

Observadores observados



Ninguém sabe ao certo a quantos milhares de anos o Homo sapiens vagueia por esse planeta, mas sabemos que nossa espécie caminha rumo a uma contínua evolução. Seja ela pelo aprimoramento de ferramentas domésticas, pelo manuseio do fogo, pela construção de cabanas; o homem foi saindo de dentro da mata para o que hoje chamamos cidades.
De uma certa forma me parece irônico esse movimento de migração, já que tudo que precisamos para sobreviver, permanece na própria natureza.
Quem quer que seja que nos projetou, pensou exatamente em uma forma de sermos capazes de sobreviver.
Nosso planeta dispõe de tudo que necessitamos: árvores frutíferas, animais, vegetais, minerais, água potável, uma terra que funciona como um berçário, onde plantamos e colhemos. Dessa forma, vamos conseguindo sobreviver ao longo dos séculos e por alguma razão curiosa, nos distanciando do lado animal que um dia fomos.
Não podemos assegurar que isso signifique evolução, mas significa uma mudança de status ...
Ironicamente o ser humano se tornou o dono do planeta, apesar de continuar completamente subordinado às suas leis naturais.
Não há duvidas de que estamos no topo da cadeia alimentar. Dispomos de um polegar opositor e cérebros capazes de criar meios e ferramentas. Estas que acabaram por aprisionar e escravizar os animais.
Tão pouco somos culpados, assim como o leão não tem culpa de seu instinto assassino. Esse é o nosso instinto. Faz parte da natureza.
De uma certa forma somos seres dotados de um chip, que nos programou para sermos assim... Se esse mesmo chip nos permitiu ter consciência de nossa própria existência, também nos deu a capacidade de nos superar.
No entanto, apesar de nossa capacidade intelectual, somos observadores da experiência de sermos nós mesmos. Criaturas em processo de desenvolvimento.
Se isso tudo faz parte de uma tentativa, somos as cobaias mais conscientes que já se ouviu falar...

E essa consciência não cessa. Basta olharmos para o passado da humanidade, para constatar como o ser humano supera suas adversidades em busca de aprimoramento. Seres capazes de atuar nas mais diversas áreas de conhecimento, com uma imaginação altamente criativa e operacional.
Essa busca por aprimoramento é tão natural, que muitas vezes nos faz esquecer de que somos meros mortais, imersos em um planeta de mistérios...
Sequer sabemos quem nos criou e muito menos para onde vamos, se é que vamos para algum lugar...
Por não sabermos disso, somos suscetíveis, carente de algo que nos explique a razão e o propósito de nossa existência.
O Homem precisa de algo em que acreditar, ainda que seja nele mesmo.
Ao longo da história humana na terra, diversas civilizações ao mesmo tempo, sem ter consciência uma das outras, criavam ritos, mitos, seitas... Uniam-se ao redor do fogo, cultivando e agradecendo o divino, a natureza, o mistério....
Não somos diferentes de nossos ancestrais.
Podemos ter mais ferramentas, descobrir a cura de diversas doenças e com isso prolongar nossas vidas, mas continuamos sem saber o grande mistério de nossa existência.
Nossa ignorância tem algum propósito?
Sinceramente acho que sim...
Talvez estejamos fazendo a perguntas erradas. Talvez a questão não seja nossa importância, e justamente o contrário...
A criação consciente de sua existência, quer ter importância. Uma vez que ela despertou para sua existência nasceu o Ego. E a natureza do ego é ser especial...
Me pergunto se não é essa a grande charada?
Se pararmos para pensar, estamos sentados em embaixo de todas as respostas... O céu é um grande mapa!
As civilizações antigas como os egípcios, se basearam nas constelações para criar grandes centros de energia, das quais ainda é um mistério...
Pouco se fala e muito menos se sabe. Mas não estaríamos fazendo as perguntas erradas?
Se pararmos para pensar somos nutridos por um planeta, que ao mesmo que nos provém, nos consome.
Nada sabemos sobre nossa origem, mas sabemos que teremos um fim.
A única resposta é que todos nós, independente de credos, cores, raças, espécies, todos nós iremos morrer.
E no entanto permanecemos presos a nossos egos, incapazes de perceber que a pergunta não se refere à nossa importância, e sim a nossa irrelevância... Somos engrenagens de um todo!
Quanto mais estivermos preocupados com nossa importância, menos aproveitamos a vida. O ser humano livre do ego entende a vida. Aceita as circunstâncias que o cerca e procura aprender com elas, do mesmo modo que uma criança olha curiosa para as novidades que surgem...
Não passamos de crianças curiosas, que precisam entender que viver nada mais é, do que a experiência de estarmos vivos!










segunda-feira, 16 de maio de 2016

Fome, o sistema operacional da Terra


Cá estamos. Perdidos e envoltos no manto do tempo.

Este que nos permite existir por determinado e limitado espaço.

Sim, somos perenes... Cegos transeuntes, incapazes de decifrar nossas origens, quê, compreender nossos destinos.

Envoltos pelos véus da ilusão, distorcemos realidades e procuramos razões que justifiquem o manicômio onde vivemos e passamos nossos tempos...

Seres que procuram satisfazer o desejo. Presos e escravos do anseio primordial, a fome!

Sim... Ainda que nossos desejos ocultos se disfarcem, somos predadores desesperados por realizá-los.

Todo desejo provém de um cerne inicial, que se baseia na própria sobrevivência.

Ainda que hoje não seja necessário caçar, já que os alimentos se encontram dispostos nas extensas prateleiras dos supermercados, não deixamos de mata-los ...

O corpo humano exige alimento e essa fome incessante e ininterrupta nos mantém vivos e reféns.

Escravos da fome e do existir...

Há de se atentar para o olhar comum. De se sentar frente ao mar e se deixar devanear pelas constantes ondas que batem nas praias, sem entender que por detrás dessa movimento, debaixo das águas, a vida incessante luta para viver e mata para se manter...

E essa simples constatação nos foge à razão. Humanos que somos, procuramos respostas sem antes compreender nossas próprias limitações.

Nesse imenso continente territorial, onde podemos respirar e interagir, estamos dominados pelas águas... Águas de um ser incessante e poderoso, que além de nos prover de alimentos, também nos permite nos locomover ao redor de seu quase infinito de águas salgadas.

Mas, uma vez que o primordial desejo “fome “é saciado, partimos então para os demais... desejos incessantes e infinitos, que procuram incansavelmente a chance de se realizar...

Desejos da matéria, do poder, do ego!

E aí, o homem já cego pelos desejos primordiais, mais uma vez fica cego pelo desejo do consumismo exacerbado, que não encontra limites e mais uma vez o controla.

Talvez seja esse o nosso destino. Consumir para depois sermos consumidos. E entre essas inconstantes etapas, vamos criando vínculos emocionais... Estes que acabam por trazer algum sentido à nossa existência... O amor...

Até que ponto possuímos a consciência de que estamos de passagem? Oriundos de um útero rumo à um túmulo... Tendo que amar, e ao mesmo tempo aprender a dura arte de desapegar...

Quanta contradição sem explicação!

Qual sistema te pertence planeta inconstante? A fome que dilacera e acalma... O desejo que nos leva à loucura... Até ser saciada?

E a fome tem saciedade?

E nesses breves devaneios, a humanidade segue. Embebida nos vinhos e nas artes. Na inconsciência atemporal de nossa verdadeira realidade.

Será tudo isso cruel ou um mero ponto de vista? Onde a grande mãe terra provém e retira, comanda e nos inspira a saciar a nova fome que certamente virá... E sempre virá... e sempre virá... até que...

Sejamos consumidos pelo nosso fim. Pelo dia em que encerramos essa trajetória por essa terra bravia e cheia de possibilidades....

Será esse nosso fim?

Será?

Talvez... E muito provavelmente não teremos respostas, e sim mais perguntas...

E ai... a engrenagem move o mundo e a fome...

Movendo a terra que nos nutre e nos consome.




A verdade cega

Cada um de nós tem o seu próprio olhar, sua bagagem e sua história particular.
Somos frutos de uma arvore milenar, que vêm sendo transmitida por nossos ancestrais.

Não carregamos somente a mistura de seus aspectos fisiológicos, como também, muito de sua maneira de ver e pensar o mundo. Mas ainda assim, somos seres individuais, responsáveis pelas consequências de nossas escolhas.

O que nos faz crer que nossa verdade é a única? Por que nos iludimos a tal ponto?

Nossas escolhas,princípios e desejos nada tem a ver com verdades. Elas apenas ilustram nossos desejos momentâneos, afinal, somos seres em constante mudança e consequentemente, mudamos nossas escolhas também.

O que hoje é nossa grande verdade, amanhã não passa de uma ilusão, criada pelo desejo de alcançar algum objetivo... E é nobre ter desejos, é justo querer alcançá-los, mas o que não faz sentido é querermos que o mundo pense do mesmo jeito.
O desejo de ter razão nos cega.

O grande desafio do ser humano é lidar com o próprio ser humano. Somos nutridos pelo ego e isso nos leva a seríssimas consequências. Toda guerra se inicia no desejo de ter razão. No princípio de que a minha verdade é melhor que a sua...

Como é possível viver em um mundo cego? Em que o desejo pessoal sobressai ao outro? Em que a minha verdade é capaz de ofuscar o livro arbítrio alheio?

Ora, seu desejo ser diferente do meu, é natural. Assim como meu corpo, meus olhos, meus pensamentos também são.

Sao justamente as diferenças e não as semelhanças que somam.

Vivemos um mundo de exposição pelas redes sociais que fomentam o efeito contrário. A liberdade de expressão é tolhida, pois o outro deve ser como eu. Pensar como eu. Agir como eu... Mas quem sou eu???

O eu também experimenta,também erra, também acerta e isso é o ser humano.

A intolerância registrada nos dias atuais não foi criada pelas redes sociais, foi simplesmente exposta por elas.

A ferramenta tecnológica permitiu ilustrar o que está dentro de nossos pensamentos. O quanto somos seres que julgam, que desprezam e que bloqueiam os que não pensam como a gente. E acabamos vítimas de nós mesmos...

Pois independente de quem somos, todos nós estamos aqui numa mesma situação. Imersos em um planeta de mistérios,aprendendo a conhecer quem somos através de nossas próprias escolhas... Errando, acertando, tentando...

Já que viver é experimentar!

Então que cada um viva sua verdade, sem julgamento e sem maldade!